Aimorés

O Projeto Aimorés integra a atuação da Aedas como Assessoria Técnica Independente (ATI) no Médio Rio Doce, no contexto da reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, ocorrido em 5 de novembro de 2015, de responsabilidade da Samarco Mineração S.A., Vale S.A. e BHP Billiton. Mesmo após quase uma década do desastre-crime, os danos permanecem presentes no território e na vida das populações atingidas, evidenciando a dimensão prolongada e estrutural das violações de direitos.

A Aedas atua junto às comunidades atingidas do município de Aimorés, localizado na divisa entre Minas Gerais e Espírito Santo, território historicamente marcado pela relação intensa com o rio Doce. Ribeirinhos, pescadores artesanais, agricultores familiares, comunidades urbanas e rurais, trabalhadores informais, pequenos comerciantes, indígenas e povos e comunidades tradicionais compõem a diversidade social do Território 8, cuja dinâmica econômica, cultural e social sempre esteve profundamente conectada ao rio.

O rompimento da barragem de Fundão provocou danos severos em Aimorés, atingindo diretamente a pesca artesanal, a agricultura, o abastecimento de água, o lazer, a mobilidade e as práticas culturais e econômicas associadas ao rio Doce. A contaminação da água e dos sedimentos, a perda de renda, a insegurança alimentar e hídrica, além do adoecimento físico e mental das pessoas atingidas, transformaram de forma profunda e duradoura o cotidiano das comunidades.

No território, os danos se manifestam de forma cumulativa e desigual, atingindo com maior intensidade mulheres, idosos, crianças e populações em situação de maior vulnerabilidade social. As enchentes recorrentes, associadas à presença de rejeitos, agravaram os danos ambientais e sociais, ampliando a sensação de insegurança e a desconfiança em relação às medidas reparatórias adotadas no processo de reparação.

A atuação da Aedas no Projeto Aimorés tem como objetivo central fortalecer o protagonismo das pessoas atingidas no processo de reparação integral, garantindo o direito à informação qualificada, à participação informada e à incidência efetiva nos espaços de decisão. A assessoria desenvolve um trabalho contínuo de presença territorial, escuta qualificada e construção coletiva de diagnósticos técnico-populares, fundamentais para o reconhecimento de danos historicamente invisibilizados.

Por meio de metodologias participativas e da educação popular, a Aedas assessora os Grupos de Atingidas e Atingidos (GAAs), o coletivo de Agentes Multiplicadores e a Comissão Territorial de Aimorés, espaços essenciais para a organização comunitária, a circulação de informações e a formulação de pautas coletivas. Esses espaços fortalecem a capacidade de incidência das comunidades nos processos de governança da reparação e na defesa de seus direitos.

A assessoria também atua na sistematização de informações por meio do Registro Familiar, no acompanhamento técnico dos programas e políticas de reparação e na produção de materiais pedagógicos e de comunicação, sempre considerando as especificidades territoriais e as desigualdades de raça, gênero, geração e classe que atravessam a experiência do desastre-crime.

No Território 8, os danos identificados são múltiplos e interligados, envolvendo a degradação ambiental, a perda de meios de subsistência, o adoecimento mental, a precarização das condições de vida e a fragilização dos vínculos comunitários. A atuação da Aedas busca contribuir para que esses danos sejam reconhecidos e enfrentados de forma integrada, territorializada e construída a partir da realidade vivida pelas pessoas atingidas.

O Projeto Aimorés reafirma o compromisso da Aedas com uma reparação integral, justa e participativa. A Assessoria Técnica Independente compreende a reparação como um processo social, político e pedagógico, que só se concretiza com a participação ativa, informada e organizada das pessoas atingidas na reconstrução de seus direitos, de seus territórios e de seus projetos de vida.